Foi por pouco. Os negócios com ações no Brasil nesta segunda-feira atingiram um dos piores níveis de estresse da história da Bolsa.
O Ibovespa, principal índice da praça paulista, raspou no circuit breaker, um sistema acionado pela Bolsa para acalmar os investidores. Funciona assim: quando bate queda de 10%, os negócios são paralisados por 30 minutos, para que os ânimos se acalmem.
O Ibovespa chegou a cair 9,73%, cotado em 47.793 pontos. O nervosismo foi tal que provocou uma corrida ao site da Bovespa na internet, que não aguentou e caiu. No final do pregão, o índice reduziu as perdas e fechou com baixa de 8,08%, cotado em 48.668 pontos, menor patamar desde 30 de abril de 2008.
O último circuit breaker da Bolsa foi acionado em 22 de outubro de 2008, logo após o estouro da crise financeira, dia em que o Ibovespa fechou com queda de 10,18%. Naquele mês, a interrupção dos negócios aconteceu outras três vezes, nos dias 15, 10 e 6.
Desde 1997, o mecanismo foi acionado 14 vezes, segundo a BM&FBovespa.
Os motivos para tamanho barulho estão sendo digeridos ao longo do pregão, que começou com queda bem mais branda. Foi assim também na Europa e nos Estados Unidos, que abriram bem mais otimistas. Em Nova York, o Nasdaq despenca 5,6% e o Dow Jones cai 4,1%.
Os negócios pioraram tanto porque, nas avaliações que estão saindo do forno, há quem diga que a situação dos Estados Unidos agora é pior que em 2008, quando a crise que levou o Lehman Brothers à falência aterrorizou os mercados. Em relatório, por exemplo, o HSBC fala em podridão fiscal, bagunça orçamentária. “Agora podemos dizer com segurança que os EUA passam pela recessão mais profunda desde o período pós-guerra e, mais importante, com recuperação posterior mais rasa”, diz o banco. O PIB é muito menor do que na pré-crise, o desemprego é muito maior e, apesar do estímulo maciço via políticas monetária e fiscal, os mercados financeiros temem um duplo mergulho, continua.
Os especialistas dizem que a decisão da Standard and Poor's era amplamente esperada pelo mercado. Mas seu simbolismo está sendo considerado altamente importante, pois está servindo para levantar discussões sobre uma nova ordem econômica mundial.O rebaixamento simboliza a redução geral da importância do Ocidente na economia global, diz o BNP Paribas em relatório desta segunda-feira. Para o banco, o corte reflete preocupações legístimas sobre a economia dos EUA, e não será bom para seu crescimento, tão necessário. Apesar disso, a casa acredita que o principal obstáculo foi superado. “Um próximo rebaixamento soberano será mais fácil.”
Também a despeito do nervosismo, a BlackRock, maior gestora global de fundos, acredita que, apesar do corte dos EUA, “a vasta maioria” dos investidores vai continuar a utilizar a curva de risco dos títulos norte-americanos (treasuries) como um padrão do mercado para julgar a qualidade do crédito global. Em relatório, a gestora diz ser importante lembrar que o Tesouro dos Estados Unidos permanece como o maior e mais líquido mercado de renda fixa do mundo, com um alto nível de transparência e poucas opções genuínas.
Como se não bastasse toda a discussão acerca do rebaixamento, a continuidade da crise da dívida europeia também estressa os investidores.
Duas decisões tomadas neste final de semana tentaram aliviar as tensões dos investidores, sem sucesso. O Banco Central Europeu (BCE) decidiu comprar títulos da Espanha e Itália, fato que chegou a fazer as bolsas desses países subirem, mas não por muito tempo. Além disso, em reunião ontem, os países do G-20, que reúne as maiores economias desenvolvidas e emergentes, garantiram que não vão mudar suas políticas de gestão de reservas. Por ser a moeda usada nas reservas mundiais, o dólar acaba negociando numa situação que parece paradoxal. Mesmo com os Estados Unidos ameaçados, os investidores seguem comprando a moeda, que sobe.Nos Estados Unidos, segundo a CNN, as bolsas ampliavam o mergulho com os novos rebaixamentos feitos pela Standard & Poor's, dessa vez para as empresas. Normalmente, quando uma agência muda o rating de crédito de um país, precisa ajustar as classificações das companhias. As gigantes de hipotecas Fannie Mae e Freddie Mac, que estiveram no epicentro da crise de 2008, foram rebaixadas.
Na imprensa internacional, o noticiário trouxe temores sobre uma possível “segunda-feira negra”, em uma alusão ao dia 19 de outubro de 1987, quando o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, sofreu uma queda de 22%.
Em nota desta manhã, o Banco Fator diz que a semana será "de digestão difícil". Para a instituição, depois de cometerem grandes erros, as agências de rating parecem buscar prestígio perdido com o rebaixamento dos Estados Unidos. "A reação da China não é inteligente: chamar o déficit dos EUA de vício é como chamar o superávit chinês de incentivo ao vício", continua o banco.
De acordo com o Fator, a reação do G20 foi anunciar o óbvio: "ninguém vai vender e desvalorizar seu principal ativo de reserva". Sobre o BCE, a instituição diz que a atitude já foi vista na semana passada, com compra de papéis da Itália e Espanha. "Risco para bancos e soberanos está lá e não nos EUA (que, de resto, emitem os dólares para pagar suas contas)."
Para o banco, a posição dos EUA no centro do império não mudou: "eles ainda vão cobrar muito imposto do mundo pela senhoriagem de emitir dólares". Mesmo assim, a casa acredita que o país entrará em recessão, mesmo sem nota da S&P. As chances de isso não acontecer são pequenas e dependem de o Banco Central do País (se reúne amanhã) partir para uma terceira colocação de dinheiro no mercado.Europa
As bolsas de valores da Europa voltaram a cair nesta segunda-feira. O índice DAX-30 da Bolsa de Valores de Frankfurt despencou 5,02%. O FTSE-100, em Londres, recuou 3,39% e o CAC-40, em Paris, caiu 4,68%.
Na Espanha e na Itália, o mercado chegou a reagir ao anúncio de compra de títulos dos dois países pelo Banco Central Europeu, e abriu o pregão desta segunda-feira em alta. Mas no fechamento os índices viraram. O FTSE MIB da Bolsa de Valores de Milão caiu 2,35%. Na Espanha, o IBEX 35 INDEX recuou 2,44%.
Bolsas asiáticas
Em Tóquio, o índice Nikkei 225 fechou no nível mais baixo desde 17 de março. O índice caiu 2,2% e terminou aos 9.097,56 pontos. Na sexta-feira, a bolsa já havia fechado em queda de 3,72%, ainda repercutindo o pessimismo sobre a crise da dívida dos Estados Unidos e a na Europa.
Em Hong Kong, a Bolsa estendeu as perdas pelo quinto pregão consecutivo e o índice Hang Seng teve queda de 2,2%, aos 20.490,57 pontos.
Na China, as Bolsas tiveram a pior pontuação em mais de um ano, com as preocupações de que as turbulências globais poderão atingir fortemente o país asiático. O índice Xangai Composto caiu 3,8% e terminou aos 2.526,82 pontos, o pior fechamento desde julho de 2010 e maior queda diária porcentual desde novembro. O índice Shenzhen Composto baixou 4,4% e encerrou aos 1.113,37 pontos.
O yuan se valorizou em relação ao dólar, após o rebaixamento da nota dos EUA. Isso fez com que o Banco Central chinês rebaixasse a taxa de paridade central dólar-yuan para o seu recorde histórico (de 6,4451 yuans para 6,4305 yuans).
Bolsas no mundo
A queda nos mercados acionários começou mais cedo, em bolsas de menor expressão, e antes do anpuncio do BCE. No pregão de domingo, o primeiro dia útil em Israel, a bolsa de valores local fechou em forte baixa de 6,99%. Mais cedo, no início do pregão, a bolsa de Israel entrou em circuit breaker (quando as operações são suspensas), ao abrir os negócios despencando 6,5%.
A Bolsa da Arábia Saudita, a primeira a operar após o rebaixamento dos EUA, na sexta-feira à noite, fechou o domingo praticamente estável, em leve alta de 0,08%. No sábado, o pregão pós-rebaixamento, o mercado local havia caído 5,4%.
Fonte:Aline Cury Zampieri, iG São Paulo
Sandro Soares
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
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